quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Minha velha tapera... - por Rosana Corrêa

Campo aberto,

descampado

a passos lentos, piso o chão

perdido nos meus pensamentos,ergo os olhos, já quase enterrado nesse chão,

lá estava ela...

num relance de vento, me caí um cisco no olho que me faz lacrimejar

porque destas vistas não sai debuxo em tempo de guerra

velha tapera, tijolo de barro, que um dia foi terra e para ela está a voltar

já foi abrigo,palco de amores e desamores

escudo de guerra, ninho de sonhos,

todos ali já foram para outros pagos

e aqui estão apenas os que ainda pagam

velhas figueiras em conjunto de três, lembram o sinal da cruz

pai, filho e espirito santo

suas raízes cruzam o antigo chão da imensa tapera

seus galhos tortos , lembram a estrada da vida

velho jippe da cor do mato, onde um dia atravessou fronteiras passaros fazem ninho.

e o cisco não me sai das vistas e junto com ele as lembranças

volto pro aqui e vejo um mundo doente, apestiado

então surge um vento, e a pala me bate o lombo e me acorda pro ontem

o ontem de velhos indios charruas, onde o vento trás segredos

onde a linhagem não se trazia no peso do ouro

mas na palavra proferida,

coração estava no sangue e não nas vestes que hoje compram como mascaras num tal cartão de crédito,prá desfiles encomendados

velha tapera, que a noite de lua cheia é recinto de reunião de velhas almas já partidas deste rincão

e com a permissão de nosso pai, aqui voltam com suas palas em mantos,tentar proteger este chão

minha terra, onde o cruzeiro rasga o céu sem pedir licença

velho pagé acocorado num canto

meio em desencanto , assim como a tapera

assistiu guerras em lança na mão

onde a lança apontava caminhos e não feridas

arco manejado com punho firme....

a beber sua beberagem

num galope de um potro, que estas vistas já não miram, num repente...desaparece

tão dono dessa terra, onde todos acolheram

tratados foram com estupidez, da dita civilização

ainda voltam a ensinar.

Perdido, estaqueado no meio do pampa ali fiquei por horas a fio

velhas figueiras onde bandeiras de charque ali retiveram ,a matar a fome de passantes e de velhos guerreiros

hoje sem charque, com passantes famintos e sem guerreiros

pedaço de chão , deste imenso país

onde atolastes tuas raízes?

olvidei o cisco, tentei deixar o debuxo livre...

mas não consegui.

Sinal que me encontro em intervalo de batalha,

levantei do chaõ com um punhado na mão desta terra , sem que por mim desse conta

coloquei no bolso cheio do nada

e jurei a tapera...me aguarda que volto!

por Rosana Corrêa

Nas minhas palavras...


Há tempos em que às vezes me sinto fora do mundo

Inadequada, estranha

Não compartilho de certas idéias, certas ideologias que regem esse mundo

Fico a pensar por tantas vezes e a refletir sobre esse assunto

Que muitas vezes me assusta, mas ao mesmo tempo me faz seguir adiante

A vida cobra-me atitude

Porque sei da minha responsabilidade sobre esse mundo

E minha alma grita por mudança, por renovação

Busco uma forma de expandir meu grito

Encontro nas palavras

Nela ganho forças, divido meus sonhos

Coloco os meus sentimentos, meus desejos

Minha indignação

Minha lucidez e minha loucura

Esta tem se tornado grande amiga e conselheira de madrugadas a fora

Tem me mostrado o seu significado, ao mesmo tempo a sua camuflada ausência

Pois o silêncio também tem sua forma peculiar de falar.

E assim caminho, observando

Refletindo nas palavras, refletindo no silencio delas,

Refletindo no efeito que elas provocam nesse mundo e nas pessoas.

Buscando respostas, trazendo respostas, nessa louca troca, entre saber e nada saber.

Nesse grande mistério entre ser mestre e aprendiz.

Sandra Vieira

terça-feira, 28 de setembro de 2010

(Des) Fecho - por Themis Groisman Lopes

Abrir velhos baús de documentos nos faz coçar o nariz e,quem sabe, seja essa comichão o gatilho de tantas lembranças:

Poeira me coça o nariz.

A melancolia coloca-me

diante do baú e

deixo-me embriagar

pelo cheiro do mofo e

de lembranças passadas.

Elas alagam meu ser.

Aberto tesouro guardado,

salta aos meus cansados olhos

o poema que te escrevi.

Que nunca mandei.

Relido várias vezes.

Emana dele

o cheiro de tua alma

em minhas vestes,

os sentimentos expressos

em minha poesia.

Era uma carta de amor.

Pueril?

Quem sabe.

Desabafo?

Talvez.

Tristeza?

Também.

Abrir velhos baús de documentos nos faz coçar o nariz e, quem sabe, seja essa comichão o gatilho de tantas lembranças:

Lembranças que teimam

em retornar,

que trazem

consigo momentos

poéticos esquecidos,

pelo medo do sofrer.

São aromas que

atingem meu ser,

enquanto a intensidade

das lágrimas pelo

passado perdido,

pela saudade sentida,

inundam o baú.

O tempo cerra o tampo.

por Themis Groisman Lopes

Angústia - por Themis Groisman Lopes

Ilusão, para que?

Nas águas mansas

há o descanso,

nas turbulentas

o desespero.

Verdade, para que ?

Na manhã cálida

o cansaço.

Na noite fria,

o abandono.

Esperança,

para que?

Já foi tudo,

hoje é nada,

resta o que?

por Themis Groisman Lopes

A Procura - por Themis Groisman Lopes

Caem as contas

do colar de pérolas.

Corres a juntá-las,

uma a uma.

Escorrega pelos teus

frágeis dedos

a lembrança do

querer perdido.

Impossível recompor.

Percebes então,

que não são

mais pedras.

São lágrimas

de saudade,

pelo tempo

não preenchido,

pela palavra

não pronunciada,

pela vida

não vivida.

Tarde demais.

por Themis Groisman Lopes

Aperto - Por Themis Groisman Lopes

Ele vem se aproximando com um sutil sorriso nos lábios, que me fazem estremecer. Há exatos dez anos, ele era imponente, altivo e com uma vasta cabeleira castanha que parecia eterna, tamanha a densidade e a força dos fios.

Começo a suar no meio dos seios, minha boca fica seca. Só consigo enxergar em câmara lenta, os passos agora pesados; o corpo opulento e flácido; a cabeça careca; os olhos injetados e fixos em mim.

Enquanto o som dos aplausos retumba ao meu redor, a iminência do encontro com meu professor de cálculos é certa e assustadora. O desconforto embrulha meu estômago. Só me dou conta da razão de minha situação de pânico, quando sua mão já quase toca a minha: esqueci seu nome, só lembro seu apelido e, é ele que temo com todas as minhas forças. É o professor que me remete às lembranças das jovens alunas procurando esconderijo, no bar do campus, para se esquivar do contato com esse homem, que hoje recebe um merecido prêmio, recompensa de anos de dedicação e esforço.

É engraçado, como o jeito desagradável, porém longe de ser insuportável, de determinadas pessoas de nossa juventude, ficam gravadas em nossas lembranças, fazendo toda emoção de outrora, voltar com força e grandiosidade. Aquele homem jamais sonhou com a reação que provocava em suas atentas alunas, pois além de bom professor, era gentil e atencioso.

Agora, cá estou eu, esperando o respeitoso aperto de mão de alguém que é digno de minha admiração e reconhecimento. Alguém que merece ser chamado pelo nome, que seus pais escolheram para acompanhá-lo e honrá-lo.

Os olhos injetados se rasgam, acompanhando o imenso sorriso. A mão aperta forte a minha, e sinto dois beijos estalados, cada qual em uma bochecha. Retribuo o sorriso e o aperto de mão. Um “parabéns” esganiçado sai, seguido de um sacolejar repetido de minha cabeça, dando ênfase a todo contexto gestual, na tentativa de disfarçar a minha desconcertante falta de lembrança. Ele não percebe. Agradece emocionado, quando lhe chamam a atenção do outro lado. Pede licença e se retira.

Saio devagar, me encaminhando às plaquinhas que indicam o banheiro.

Entro, olhando resignada no espelho. Puxo duas toalhas de papel, depois mais duas.

Enquanto limpo meu rosto, lembro seu nome: Cesar Augusto, o famoso “Baba Bochecha”.

Por Themis Groisman Lopes

Aprendendo...- Por Themis Groisman Lopes











Quando palmilhamos uma estrada chamada vida, encontramos vários obstáculos pelo caminho. Dependendo da forma como os enfrentamos, poderemos torná-los preciosidades. Isto nos é possível concretizar com nossa experiência. Através dela tornamos os caminhos menos árduos. Teremos muito mais paciência e tolerância com o que nos desagrada e nos faz sofrer.
Não existe vida sem sofrimento. Sempre nos defrontaremos com uma desilusão, uma situação não desejada ou até mesmo, trágica. Quantas perdas temos ou teremos em nossa trilha. Algumas reais, outras nem tanto assim, e algumas, apenas fantasmas.
Quantas vezes somos capazes de sentir mágoas profundas, por achar que perdemos uma pessoa, sem peceber que na realidade, foi ela que nos perdeu. E, mais ainda, não podemos nos equivocar pensando ter perdido algo que nunca tivemos.
No entanto a vida não se resume em obstáculos e perdas. Ela nos oferece muito mais. Nos foi dada a possibilidade de construir, de enfeitar, de transformar a matéria primitiva, lapidando-a e produzindo. Então para que complicar?
É bem mais fácil lidar com a realidade, que é palpável, do que com a fantasia que só é útil no carnaval.
Os nossos sonhos são inerente a nós. A maioria deles é realizável, se o quisermos. Que seria da vida se não fosse possível sonhar. Não compramos, nem vendemos sonhos. Eles povoam nossas mentes e nos propiciam
criar. Sonhar permite compor um poema, escrever um texto, desenhar, pintar, esculpir, compor. Que seria da arte se não colocássemos nela os nossos sentimentos?
Podemos pensar, que como as borboletas, devemos cumprir fase por fase do antigo para entregar-se ao novo, aprendendo também a voar.
Deixemos acontecer conosco o nobre prazer de abrir para florescer. Sem o sonho, será possível? Mesmo que o acordar seja dolorido, só ele nos permite e permitirá saborear a vida, simplesmente.

Por Themis Groisman Lopes

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Acelerar a vida



Chega uma hora que não dà mais para continuar a andar com o pé no freio.
Foi uma vida assim,fazendo de conta.
Achando que vivia!
Uma vida sem identidade pròpria.
Quando essa identidade é encontrada não tem como escondê-la.
Interessante que tudo passa em alta velocidade.
Vem a necessidade de viver cada segundo como se quisesse resgatar o tempo não vivido.
È impossìvel retomar o que passou, mas reescrever o presente, sim.
A respiração e o ritmo basal mudam.
Tudo fica diferente, perfumado, colorido.
Vivo!
A vida não era assim antes.
Por que?
Por que era tìmida e agora se mostra explosiva?
Serà ela ou eu?
Vejo que sou eu!
Eu, que passei a ter uma nova visão de tudo, como se as cortinas tivessem sido arrancadas.
Eu ,que quero viver intensamente, mas claro, com responsabilidade.
Eu, que não deixarei passar nada que ache vàlido.
Posso até me machucar e sofrer.
Não importa...
Sofro feliz, pois a escolha é minha.
Não vou me acovardar.
Em compensação,se der certo...
Ah!
Jà sinto o prazer e orgulho  de ter tido a coragem de tentar!
Isso...
Vou ousar...
Experimentar...
Beber...
Embriagar...
Fartar...
Desse lindo presente
Que recebo todos os dias:
VIDA!

Em meus sonhos


O que seria de nós sem os sonhos.

O que seria da minha alma sem eles...

Meus desejos... Minhas loucuras.

Meu querer e meu viver.

Vou onde quero, conheço lugares.

Pessoas. Seus cheiros. Suas cores.

Suas histórias...

Meus sonhos me levam onde eu quiser

Viajo em meus pensamentos.

Sou dona absoluta dos meus devaneios

Compartilho.

Ou não...

È neles que encontro razão para conquistas

Porque consigo ir além, visualizo meus objetivos.

Neles sou rainha

Mando e desmando em minhas loucas viagens transcendentais.

Que dádiva poder sonhar

Sonhar é antecipar objetivos

È se deleitar com o que esta por vir

È planejar e se deliciar com essa caminhada

Por mais difícil que venha a ser

Por mais que me dêem motivos para deixar de sonhar

Nunca abrirei mão desse direito que me é dado pelas mãos divinas

O êxtase de sonhar.

Sandra Vieira

domingo, 26 de setembro de 2010

ANTES



Havia o verbo. Havia a luz.

Havia o som. Havia o ser.

Havíamos nós.

Na letra e música - sós.

Aperte o nó: cabemos em nós mesmos.

Olhemos para dentro - somos pequenos.

Não estamos sós.

Basta ver o que fazemos: mesma estrada, mesmo pó.

Faço um verso no inverso

Do teu universo

Tu és apenas o reverso

Do meu espelho.

Tua luz se fragmenta

E te desintegras

Não é mesmo?

Vagamente te assemelhas.

À poeira das estrelas.

Se juntarmos tudo,

Novamente seremos dois,

Na plenitude de um,

De tudo que volta ao começo

O verbo Ser,

Que se fez Luz,

Que gerou o Som,

Que geramos nós

Na música os atamos

E soltamos, para dentro de nós mesmos.

Estávamos sós no universo.

Não mais estamos.

PINTURAS DE PENA E PINCEL



A pena pousou empenada

Suavemente no papel

Numa penada escreveu

Pensou

Pincel eu sou

E disparou a mente

Certamente

Mente pincel

Pena não sou

Suave mente

Experimente

Papel não pensa

Cumpre seu papel

Repensa

Pena escreve leve

Pincel apaga e sente

Apaixonadamente

A mente demente desmente

Pena.

SERENIDADE E BELEZA



Acordei,

Inundada em paz

E melodia,

Um manto de estrelas

Me cobria,

Com uma luz lilás

Me inebriava.

E quanto mais queria,

Quanto mais tentava,

Menos conseguia,

Mais desesperava

Tentando entender

De onde surgia

O estranho poder

De tanta energia.

Encontrei a calma,

Quando descobri

Que eram apenas

Teus versos,

Que cantavam,

Iluminando minh’alma!

ARCABOUÇO



Em cima daquela torre

O músico e a bailarina

De noite tomavam porre

De dia faziam rima



Desciam pelas escadas

Cantavam pelas esquinas

Voltavam embriagados

Num rastro de purpurina



Até que a ventania

Desnudou a bailarina

Destruindo a melodia

Arrancou-lhe a fantasia



Poeta bebeu saudade

Vagou pela noite fria

Trôpego pela cidade

Procurando a bailarina



Não encontrando pousada

Procurando companhia

Voltou à torre encantada

Mas só fantasmas havia



E o poeta, em sua sina,

Subiu à torre e maldisse

Seu amor pela meiguice

Da lânguida bailarina



Assim, de dor consumido,

Foi descendo aquela escada

Caminho tão percorrido

Junto de sua amada



Até encontrar o porão

Onde ficou para sempre

Prisioneiro de si mesmo

De seus sonhos, da canção

Prisioneiro do amor

E da imensa solidão.

DAS DOZE



Passaram-se doze primaveras.

Ou teriam sido doze meses apenas?

Não sei...

Doze dias,

Doze beijos,

Doze saudades,

Doze pensamentos loucos,

Doze desencontros,

Doze quilos a mais

Ou a menos,

Doze mechas grisalhas,

Doze dores lancinantes.

Não importa!

Doze horas te devolveram a mim.

E descobri que um ano não foi nada.

A mesma primavera que te levou,

Trouxe-te de volta

(pois havia pássaros em meu jardim).

Era como se o tempo

Houvesse estancado.

Morreram as saudades, as dores

E os desencontros.

Renasceu o desejo desesperado,

Doze vezes sufocado,

De ficar junto de ti.

Portugal – Brasil: dois países, um só coração!


Bela alma doce e amiga.

Quanto mais conheço o povo maravilhoso, fraterno e acolhedor que é o português, mais fico encantada.

Todos os amigos, que encontrei, através dessa mágica ponte virtual, e estão do outro lado do oceano, são iluminados e têm o dom da generosidade. Cada um - com sua beleza única - é exemplo vivo disso. Trocamos empatia, afeto e abraços, que atravessam essas águas, unem nossas mãos, nossos corpos, nossos corações. Parecem bater em uníssono.

Quem pode explicar essa maravilha?

Muitas vezes parentes próximos, amigos de anos não nos vêem com tanta frequência, não nos telefonam, não sabem tanto de nós. E há outros tantos, sinceros, corações esplendorosos cheios de fé, de querer bem que nos procuram diuturnamente. Na maior parte das vezes, nas atribulações diárias apenas para dizer: “Olá, como vai?” ou “Estou aqui, não esqueça que lhe quero bem...”. Quanta delícia, quanto conforto, quanto carinho! São tão belas e autênticas as demonstrações de afeto, que chego a ler em voz alta, imitando o sotaque ‘arrastado’ (para nós, brasileiros) da pátria-mãe, Portugal. Para sentir o cheiro do leite materno, para sentir o calor morno de seu colo, o afago em meus cabelos, o carinho, o abraço, quando choro. E ele me vem – sempre – na hora certa. No momento exato em que mais necessito. Como eles sabem? Não me perguntem. Sigam o rumo de seus próprios corações (como o tão gaúcho “Canto Alegretense”).

Ultimamente, em fases de algum sofrimento, além dos grandes amigos do mundo real (que são o esteio de minh’alma), não me questionem como, os fantásticos portugueses estavam lá – firmes e fortes. Não sei como sabiam que eu precisava deles. É sentimento. Sintonia fina. E não deixaram meus pilares ruírem. Abasteceram minha vida de fé, amor, esperança, coragem. Deram-me lições de vida. Tantas vezes fiz isso pelos outros. Era eu a usina de energia de meus amigos. Partilhava minha força e alegria de viver com meus semelhantes. Jamais imaginei que o Criador me fosse conceder a graça de volta. Ela veio, um dia, de tão longe. E chegou tão forte como se estivesse dentro de mim mesma.

Abençoado povo português!

Agora entendo o porquê da língua, nossa musicalidade, nossas nostalgias, nossos gostos, nossas similitudes, nossos afetos. São as raízes que nos unem, caros amigos. Deus plantou isso. Haveríamos de ser um só povo, um só coração.


Carmen Macedo

Encontro

Pela estrada, busco o caminho.
Não sei ao certo onde chegarei.
Só sei que procuro encontrar-te,
nas terras que fertilizam,
nos mares que ondulam sonhos,
nos ares, onde voam quimeras.
A saudade deixou vincos profundos,
a ausência, sentimentos de não mais ver.
Continuo trilhando a estrada do possível
encontro.
Quem, sabe ,então, nós dois
desbravaremos terras, mares e ares,
tranformando o sonho tão desejado,
na certeza do nunca mais
desencontro.

Themis Groisman Lopes

Acontecer

Tão perto, tão longe.
De mãos dadas
lado a lado.
Um descompasso
a separá-los.
Querendo encurtar
distâncias
e o destino
a aumentá-las.
Tão beve
quanto finito
poder sonhar
e conceber.
Esperando
tão somente
que o amor
eterno ausente,
transformado
em semente
brote um dia,
de repente
e se torne
eternamente
teu presente.

Themis Groisman Lopes

Viajando...

O comandante traz-me  à realidade ao anunciar que iria se preparar para o pouso.  
Instintivamente meus olhos se voltam para a janela do avião.
Não havia nada de especial là fora, apenas a escuridão da noite. Apesar disso, continuava a admirar.
À medida que perdia altitude, tive a sensação que o firmamento mudara de lugar ao avistar pequenos pontos luminosos distantes , abaixo de mim. A principio eram uns aqui e outros acolà, quase imperceptiveis. 
Continuei com o olhar fixo e  o "céu" foi se enchendo de "estrelas" como um manto bordado de diferentes matizes.
Que lindo espetàculo!
Là longe no horizonte,uma "nebulosa" dava a impressão de ser dia. Como o ângulo de  olhar muda a vista.
Nunca tinha reparado em tamanha beleza.
Em êxtase, me detive na cidade que se aproximava...
Era tudo tão calmo,como uma tela.  Sò o "pulsar" das "estrelas" mostravam que havia vida.
Apesar dessa aparência, cada casa, prèdio tinha seu movimento.
Certamente, havia diferentes situações ...
Crianças nascendo.
Gente rindo, feliz, dançando, bebendo, amando aproveitando o sàbado.
Em contrapartida, infelizmente, em outros lugares tristeza,choros, brigas, mortes das mais variadas causas.
Com o avião a poucos metros do chão, elevo meu olhar para o céu e vejo as estrelas  em seus lugares e aqui embaixo a paisagem muda.
Abaixo de mim, não enxergo mais estrelas nem nebulosas,e sim, casas, postes, carros.
O avião toca o chão , o barulho da aterrissagem traz-me à realidade.
Pronto!
Estou novamente inserida ao contexto

sábado, 25 de setembro de 2010

Mamãe Dindinha

Noventa anos...
Mulher de garra que, apesar de todas as dificuldades e turbulências , manteve-se de pé.
Sempre desprendida, se doou por completo em prol dos sobrinhos que amou e ama como filhos.
Dindinha, és um presente que Deus colocou em nossas vidas.
Olhando para você, no alto dos seus 90 anos, posso ver quanta beleza e sabedoria encerra.
A falta de estudo não impediu que se tornasse sàbia e doce.
Os anos moldaram-na com esmero.
Sei como sua vida foi dificil.
Imagino quantos sonhos desfeitos, desilusões.
Foi sempre presente apesar de tudo.
Não poderia faltar as brigas e discussões.
Claro!
Como não acontecer?
Eram as podas necessàrias.
Sei que muitas foram um tanto exageradas, mas todas tinham o intuito de promover o crescimento.
Se deixaram algumas marcas, certamente não foram maiores que as  dos momentos felizes.
A familia continua viva!
Os pais jà se foram e você continua sendo o coração.
Como somos privilegiados!
Não hà mais o que dizer, a não ser...
Muito obrigada por tudo!
Orgulho-me por você ser minha segunda mãe.
Deixo aqui todo meu amor ,carinho e admiração!


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Proximidade

Deparo-me pensando em você

Será apenas uma imagem?

Lembrança....

Ah! Você parece tão perto...

Mas ao mesmo tempo as certezas o levam para tão longe...


Longe onde não posso estar...

Longe onde não posso ver...

Mas lembrar me faz sentir...

Faz-me navegar nas profundezas de que fomos juntos.


Faz-me viajar em cada curva do teu rosto,

Do teu olhar, e do teu sorriso incerto.

E faz-me crer que és especial a mim, sem igual.

Em um mundo onde pessoas parecem seriadas...


Então me pergunto!

Onde estás agora?

O que estas fazendo?

Em cada verso aqui escrito, te sinto tão presente!

Mas tudo que tenho é a lembrança...


As incertezas são as certezas desta vida.

Onde às vezes esperamos o que nunca vai chegar.

Mas eu fecho os meus olhos, e em silêncio me lembro...

Estranha sensação de vulnerabilidade...


Hoje me frustrei...Expectativa criada...

Errei. Esperei. E não tive...

(Parafraseando Tiago G)

Andreia Bossoes

Hoje

Hoje eu acordei com uma sensação estranha. O dia me pareceu mais belo, apesar de sombrio. Até o canto do Bem-te-vi anunciando chuva, soa  como melodia aos meus ouvidos. Começa a chover mansinho, e cada gota d’água que bate no telhado, é mais um acorde que me delicia. Abrindo a janela sinto um friozinho gostoso que aquece a alma. As marteladas na casa do vizinho, não são mais incômodas. É um chamamento ao encanto do reconstrução.

Olho-me no espelho, objeto há muito proscrito por não querer ver, reflete a imagem da pessoa que não mais pensei ser. Não procuro ver rugas, nem vincos. Aparece uma mulher bonita, que nunca fui. É uma beleza interna que transparece através da reflexão, transmudada numa figura esbelta, com um sorriso cativante, e olhos muito luminosos permitindo enxergar ao redor. Eles também brilham por  ver a beleza que estava escondida dentro de mim.

Nunca pensei ser um Newton na descoberta da lei física da atração, nem um Monet impressionista . Mas senti uma atração muito grande pelas refletidas imagens e uma vontade de colorir cada vez mais a natureza. Senti-me amando todas as pessoas, que me amam ou não, almejando a união, o diálogo, e cuidando dos animais com o maior desvelo.

Fui à sacada, onde estão plantadas em antigos vasos, rosas e orquídeas e com um a alegria incrível constatei que as mesmas estavam desabrochando para a Primavera. Era como se estivesse num jardim florido, envolvida num aroma sutil e ao mesmo tempo, marcante envolvendo todo o meu ser.

Descobri, hoje, que cada pedacinho do solo que piso, é obra de um criador, de um artista. Olhando para o peitoril, onde repousam folhagens, plantados com muito zelo, vejo um ninho de um Beija-Flor. Um filhote recebe alimento que sua cuidadosa mãe. A cena enternece meu coração.

Quando a noite desperta, a lua cheia, lá no alto, me cumprimenta com um sorriso faceiro. Eu a reverencio como o mais significativo presente dos céus. Olhando o horizonte que se descortina aos meus olhos, vislumbro um mundo de Paz. Um mundo onde os homens de todos os continentes e regiões estão de mãos dadas, brindando a união dos povos e ao término das lutas, da ânsia pela riqueza e pelo poder e da discriminação. A tranqüilidade também reina no meu pensamento e no meu sentir. Nada mais é feio ou sem graça. Em tudo há formosura, tantas vezes ignorada. Querendo a gente encontra.

Os amigos?  Verdadeiros anjos que descerram à terra , para colocarem a mão no meu ombro, me valorizando,e me convidando a estabeler um vínculo afetivo indissolúvel. Se um dia me senti magoada, ressentida ou desconsiderada, entendo hoje, que não sou um planeta, onde  em torno mim, girariam os satélites. Sou apenas mais uma estrela pertencendo a uma constelação, entre tantas outras, que constituem o universo.

Descobri hoje, uma mulher amadurecida, com vivências indescritíveis e muitos sonhos a concretizar. Descobri hoje, o que  há de mais significativo:   o amor.  Ele me levou pela mão e, fez acreditar na sua existência. Assim eu perdi o medo de amar.

Hoje, eu fiz a maior descoberta de todas: eu sou perdidamente apaixonada pela vida.

Themis Groisman Lopes

Dias Cinzentos

Saudades de mim mesma.
Da alegria, das cores vibrantes.
Do ritmo em bossa nova que toca em meu coração.

Ainda assim, não fugirei de mim.
Farei companhia à melancolia que me visita hoje.
Ficaremos juntas em silêncio...

Não que eu seja apaixonada por nuances tristes...
Mas eu as respeito...
Aprendi que tenho que levá-las em consideração.

Meu Ser não nasceu para ser triste.
E convenceu minha alma, razão, percepção.
Tudo em mim sabe que sou Alegre.
Essencialmente alegre.

O que não impede a visita intermitente da tal melancolia:
“Seja bem vinda querida, mas, por favor: não se demore”.

E o respeito e amor por mim impelem-me a estar comigo mesma...
Com qualquer humor, com qualquer razão...

É bem feliz saber que posso contar comigo nestas situações.
Entende-me?

Por Andreia Bossoes

Palavras


Sou amante das palavras.

Trata-se de uma expressão de arte

compreendida pelos mais sensíveis de alma.

Palavras são puras,

Quase não faz uso de artifícicos.

Não inebria os sentidos com sons, formas,

Cores, perfumes ou sabores.

Não como solo.

Não em concretude.


Poemas são convites.

Convido-o a arte da imaginação.

Convido-o a arte de pensar e elaborar.

Convido-o a silenciar-se em si mesmo.

Convido-o a ler, perceber e ouvir o outro.


Palavras ressoam em corações cujas fontes

Emanam desejo e busca.

Desejo de vida em plenitude.

Desejo de se conhecer.

Desejo de Ser...

E tantos outros desejos,

Em universos particulares...


Palavras são capazes de adoçar e colorir uma vida.

Palavras são capazes de amargar uma existência.

Curar e condenar.

Desde que puras, nascidas e recebidas na alma...


Quanto ao silêncio?

Sim, é uma linguagem do Amor,

Quase como um consolo.

Há situações em que ele fala

Melhor que qualquer som ou voz.


É recurso presente nos sábios.

Entretanto, não o vejo como linguagem de Ação.

O vejo como reação, salvo raríssimas excessões...

É demonstração de afeto, compreensão e perdão.

Concílio e reparo.


Convido-o a ação do Ser:

Ser Cor!

Ser Sabor!

Ser Sorriso!

Ser Amor!

E quando inevitável for....

Silencie...


Como gesto de Amor!

Por que pessoas valem mais

Do que palavras...


Por Andreia Bossoes

O tempo é o vão............



Velho tempo,

pensas que me enganas

que estás a passar

estás estaqueado

quem passa sou eu

troco de vestes

assisto guerras ,ouço falar de paz,

onde eu estiver mudo teu cenário , tu inabalável ficas a assistir

nada invento, nada crio, tudo já sabes, ja assististes

num tropeço, desvendo teus segredos

guardas as Eras me fazes ver o que eu era

ocultas meus caminhos

percebes a ira

assistis a tudo, mas nunca passas...

inventaram as horas, relógios prá te marcar e mesmo que parem tu estás lá

no fundo, de nossos fundos sem fundo,

és imune, nada te trava, nada te adianta

retratas espaços inexistentes

assistis transformações quieto, taciturno

e num galope rasante, me atiro ao encontro do nada

o nada que escondes o nada que fazes

no teu ócio na espera insana de teu passar e o tudo  que nunca farás , pela inexistência que tens

me fizeram crer que passarias, por comodismo, por utopia

mas a muito já descobri tua armadilha

és irmão de um livre- arbitrio que me cederam, parente da democracia discursada

tantos caminhos, tantas opções....

brincam comigo ,brincam com todos ,vivemos atados,prisioneiros, por sútis correntes invisíveis

cartas marcadas, destinos traçados de apenas um caminho, uma verdade

de várias vidas fingidas em ser um outro um outro alguém,um outro nome

mas só tu sabes....

somos os mesmos

forneces cordas limitadas, invisíveis

te fazes de santo

me atiro no canto sei teu segredo e sabes dos meus

te deixo de lado reescrevo teu cenário, em teus espaços que dizes vazios

não és mais que eu

nem eu mais que tu

mas personagens,de um ciclo de vida...que insistes

te fazes de ancora, no oceano da vida tão fundo, tão atraente, exposto e desconhecido

eu viro iceberg a passar por ti a navegar esse oceano

mas  nós dois prisioneiros sabemos o que somos e onde irei...

tu ficarás inerte a ver passar

Velho tempo...tão velho quanto eu tão escravo quanto tudo e todos

mas guarda em silêncio tudo que assiste não participa....apenas assiste...

calado....

Rosana Corrêa

PANO PRA MANGAS

Que os tempos mudaram e, com o tecido que antigamente se fazia um lenço hoje se faz um vestido de baile, não é nenhuma novidade.

Também não é novidade que, proporcionalmente ao volume de fazenda utilizada na confecção das roupas, foram diminuindo o número dos manequins.

Na ditadura da anorexia, uma mocinha que use manequim 42 será considerada obesa. No meu tempo, 40 seria raquítica.

Li, certa vez, que os costureiros inventaram essa onda dos manequins menores e, consequentemente, das mulheres magérrimas que caibam nesse tipo de roupa, para gastar menos matéria prima e para que as coleções fizessem menor volume ao serem transportadas.

Como estilistas são artistas e todo artista tem um quê de genial e louco, vai saber...

Resolvi encarar com bom humor os novos ditames impostos pelo mundo fashion atual.

Quando chego a uma loja, após verificar a vitrine, poluída de belos e minúsculos modelos daquilo que imagino não serem para mim, pergunto de antemão se vendem roupas para adultos também. Normalmente é risada geral. Tenho cúmplices!

Se as balconistas estiverem desatentas, completo, desafiadora: Na vitrine só vi roupas da sessão infantil e quero para o meu tamanho...

Assim, já poupo o stress de ouvir a solene resposta de sempre:

- Não, nós não trabalhamos com tamanhos grandes.

Outro recurso que venho empregando é, ao ser atendida, ir logo perguntando onde fica a sessão “BG”, ou seja, “Baleia Gorda”. Diversão garantida! Se não houver manequins grandes, pelo menos nos despedimos todas rindo, o que nos previne rugas.

Só que todo este “jogo do contente” não dura para sempre.

Acabo chegando à triste constatação de que os tamanhos são sempre os mesmos, em todos os lugares:

U = Unicamente para magras

PP = Pouco Pesada

P = Pequeníssima

M = Menor do que você imagina

G = Geralmente não cabe em você

GG = Garota Gostosa

EXG = Extremamente gata

E agora?

Volto para casa de mãos vazias.

Na cabeça, o velho slogan:

“Emagreça e apareça!”

Carmen Macedo

ARCABOUÇO



Em cima daquela torre

O músico e a bailarina

De noite tomavam porre

De dia faziam rima

Desciam pelas escadas

Cantavam pelas esquinas

Voltavam embriagados

Num rastro de purpurina

Até que a ventania

Desnudou a bailarina

Destruindo a melodia

Arrancou-lhe a fantasia

Poeta bebeu saudade

Vagou pela noite fria

Trôpego pela cidade

Procurando a bailarina

Não encontrando pousada

Procurando companhia

Voltou à torre encantada

Mas só fantasmas havia

E o poeta, em sua sina,

Subiu à torre e maldisse

Seu amor pela meiguice

Da lânguida bailarina

Assim, de dor consumido,

Foi descendo aquela escada

Caminho tão percorrido

Junto de sua amada

Até encontrar o porão

Onde ficou para sempre

Prisioneiro de si mesmo

De seus sonhos, da canção

Prisioneiro do amor

E da imensa solidão.

*Para Ludmila Rodrigues e Wander Bêh

Carmen Maceco

Quebra-cabeça



Como a vida tem me surpreendido!

Quando imaginaria que, numa rede de relacionamentos, conheceria pessoas  maravilhosas e afins?

Hoje, neste exato momento estou hospedada na casa de uma que , de tão linda, é ùnica.

Tento achar explicação para toda essa "loucura" e quanto mais penso menos entendo.

E não tenho que entender mesmo, apenas sentir e viver esse encontro  marcante.

Quão linda você é, minha amiga!

Se, hà muito, dizia que éramos irmãs, agora posso acrescentar mais. Somos irmãs gêmeas, univitelinas.

Quiçà clones.

Quanta identidade!

Sentimentos!

Alegria,loucura,anseios,necessidades.

È...

Somos irmãs...

Daquelas unha e carne.

Não esqueço os outros que encontrei.

Todos maravilhosos, especiais.

Descobri que não tenho nacionalidade.

Sou universal.

Amo a todos e de todos os cantos.

Talvez ,por isso, sinta-me um peixe fora d'àgua.

Sou  peça de um quebra-cabeça que, se completarà, à medida que encontrar as outras.

Està apenas começando.

Essa é a experiência mais marcante e inesquecivel que jà fiz.

Tenho certeza que é a primeira de muitas.

Meus irmãos de alma estão por todo lado e, ao que tudo indica, é chegada a hora de nos encontrarmos.

Pode parecer loucura, insanidade, mas que é a vida senão uma gostosa maluquice?

Margarete Martins Araújo

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primavera



Primavera chegando

rompendo o casulo

borboleta

abre asas

Canta

voa

voando...deixando para trás

o inverno a repousar

venha primavera

aquece minhas asas

quero voar

flores me esperam

doce néctcar

a mais linda flor

borboleta voa

primavera chega

borboleta busca o amor...

Rita Cherutti

Rascunho automático

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Existiriam?



Paulo era um garoto de 15 anos que morava numa cidade do interior. Pacato e estudioso, convivia muito com sua prima Rosana, alguns meses mais velha do que ele. De uma hora para outra, começou a sentir uma atração acentuada por ela. A garota tinha receio de aproximar-se de qualquer rapaz, embora sentisse curiosidade. A mãe sempre a alertara em relação aos homens, dizendo que tivesse cuidado. Só queriam se aproveitar das mulheres e largá-las como objetos descartáveis. Poderia ser verdadeiro o conselho materno.

Tão teimoso quanto bonzinho, Paulo se aproximou mais da prima através dos livros. - Ambos gostavam de leitura- Estavam sempre na biblioteca. Ele a elogiava, procurando seduzi-la usando  todos os artifícios possíveis, como muitos homens soem fazer. Rosana não queria aceitar, mas, na verdade, apaixonou-se. O romance aconteceu. A adolescente ficou totalmente embevecida. O namoro era às escondidas, pois tinham certeza de que os pais não aceitariam o fato, por serem primos.

Não demorou muito para o primo notar que existiam outras gurias mais bonitas, saias mais curtas, decotes mostrando seios fartos e tentadores. Acabou descartando a prima, como uma cueca usada, bandeando-se em busca de novos sabores e odores. Legítimo Don Juan. Rosana, humilhada, lembrou dos conselhos da mãe: homens não prestavam. Decidiu atirar-se para qualquer rapaz, pulando de um para outro, tal qual uma pulga. Deixando picadas. Provaria que os homens podiam ser mais dispensáveis do que qualquer mulher. Paulo dizia para os amigos que felizmente deixara aquela galinha. Rosana, de tantas aventuras amorosas sem a mínima cautela, ficou grávida. Não sabia de quem era o filho. Nem estava interessada em saber. Ficou feliz quando percebeu que, verdadeiramente, o que desejava era ser mãe. Os homens que ficassem sofrendo, sem saber quem era o pai. Mesmo que descobrisse, jamais contaria. Estava realizada. Afinal, conseguira vingar-se do primo e consequentemente dos homens.

Na véspera da Páscoa, Paulo e Rosana se encontraram num bar da noite. A garota com uma barriga de sete meses. Olharam-se com surpresa, com ódio, com amor. Pairou no ar uma dúvida: ainda existiriam contos de fadas?

Themis Groisman Lopes

Hoje, apenas, hoje.

Na espuma do

mar revolto,

escondo meu relicário.

As ondas rebeldes

querem roubar

meus segredos,

que  foram

consagrados no

altar do

meu sofrimento.

Mar, amigo

e carrasco

por que me

maltratas assim?

Bem sabes

que meu amor

foi sempre infinito

por ti.

Tragaste minha

feliz infância,

enquanto em

tuas águas

me banhava,

esperando o amanhã

que viria, solitário

para lavar minha alma.

Oh ,mar, por que?

Fizeste naufragar

minha juventude

sepultando-a na

tua imensidão.

Agora queres

também levar

os meus sonhos?

Não!

Eles são

muito meus.

Acalentados por

uma vida inteira,

mesmo sem saber

se um dia

seriam reais.

Mas são os

meus sonhos.

Ninguém os

tirará de mim.

Neles dorme

a criança que

fui,um dia.

Neles repousa

a juventude que

não foi.

Mas são

os únicos

que me restam.

Palpitantes

Acariciados.

Guardados no baú

da minha

maturidade.

Foram  a

minha vida

e serão a

minha morte.

Pelo menos

hoje, meu mar

faz de conta

que são meus

e deixa-os

comigo


Themis Groisman Lopes

Simples (mente) Mulheres

Quanta leveza e subtileza,
quanto amor no olhar
quanta verdade no sorrir.
Quantos sonhos já vividos
quantos sonhos por sonhar.

Quantos desejos supridos
e quantos por desvendar.
Verdades que gritas por dentro,
vaidades retraídas, extravasadas.

Mulheres guerreiras, batalhadoras,
diplomáticas, Mulheres, queridas,
Mulheres destemidas
Mulheres “rodadas”
mas simples (mente) M U L H E R E S.

Mulheres meninas
que não perdem a inocência,
meninas Mulheres
que desabrocham
antes da adolescência.

Acerca de ti Mulher
não há muito o que falar
apenas há que sentir
tão pouco há o que julgar,
nem tentar te definir.

Cada uma com seu jeito,
todas elas desiguais,
todas com dias perfeitos,
outros dias infernais.

Todas são indecifráveis
A um olhar masculino
que às vezes em vez de HOMENS
tornam-se "Omens".

Mulheres que os fazem perder o tino
ficar de olhos virados
de pedir ajoelhados
com expressão de menino.

Mulheres com sex-appeal refinado.
Mulheres "menina" com olhar de sedução
Mulheres "feiticeira" para agarrar o coração.
Mulheres que mesmo desnudas provocam admiração.

Cada uma com seu substantivo,
Mulheres mães, amigas,
Mulheres multifunções,
Mulheres sensíveis,
Mulheres guerreiras,
Mulheres invisíveis.

Mulheres que poucos homens
conseguem compreender.
Mas simples(mente) mulheres.
Mulheres sem as quais os Homens,
dizem não conseguir viver.

Cristina Costa

Marcas do tempo

As marcas que hoje se encontram em mim têm uma història.

São marcas de uma trajetòria percorrida com garra e vontade de viver.

Como desprezà-las?

Elas se confundem comigo. Seria como apagar parte de mim.

Pode não ter sido o melhor, mas eu vivi.

Fiz o que achava certo.

Com os erros  aprendi.

Cresci.

Os acertos deixaram-me mais confiante.

Tudo isso està aqui, no meu corpo.

Olhando no espelho, vejo-me bela.

Meu corpo não é escultural, mas  tem contornos ùnicos  que me remete ao passado.

Posso assistir, através dele, ao filme da minha existência até aqui.

Volto à minha infância, adolescência e vida adulta.

Interessante ver que não sinto tristeza.

Ela dà lugar ao orgullho de ter sido forte o bastante e superado os momentos difìceis.

Hà tambem alegria e paz.

Sentimentos puros e sublimes de acontecimentos maravilhosos.

Hà uma marca especial que me enche de alegria, prazer e êxtase.

A da maternidade!

Sentimento ùnico, especial e divino.

Como não gostar e até mesmo me encantar com minhas marcas?

Impossìvel!

Elas revelam que me tornei mais madura e experiente.

Desejo que venham outras e que possa sempre me orgulhar.

Enxergar nelas traços do Artista que me desenhou com todo Amor e continua aprimorando Sua obra!

Margarete Martins Araujo

AS RUGAS DA ALMA – Como fazer uma plástica?



A partir do poema que postei, intitulado Dores e Lembranças, e dos excelentes comentários de tantos amigos inteligentes que vieram acrescentar suas idéias e trocar experiências de vida, vi-me refletindo mais profundamente sobre o tema.

É verdade insofismável que todos nós, um dia, envelheceremos. Nascemos envelhecendo, minuto a minuto. É a trajetória inexorável da vida. O tempo cumprindo sua missão. Olharemos nossa face no espelho e veremos outra imagem diferente da que fazíamos de nós. Veremos apenas um vago reflexo do que fomos um dia. A pergunta será inevitável: onde foi parar meu viço, minha beleza?

Muitas pessoas desesperam. Entram em verdadeiro looping, não aceitando o passar do tempo. Há verdadeiras legiões de almas desassossegadas que buscam resolver suas carências e tristezas em clínicas de cirurgia plástica e rejuvenescimento. Existem hordas de novos pacientes, todos os dias, abarrotando consultórios e buscando - através de milagres com fórmulas, chás, exercícios pesados, novas dietas e tantas outras maluquices - a eterna fonte da juventude. É o culto à beleza. Velhice é out. Será mesmo?

Importante lembrar que cada fase da vida tem suas delícias e seus encantos. Parece que estamos esquecendo isso, às vezes. Em cada ruga, cada sulco que nos acompanha, há uma marca a ser cultuada também – realizações, dificuldades, etapas vencidas arduamente, tristezas que superamos, recordações que não devem ser apagadas como se usássemos o fotoshop para tudo.

Jamais condenaria quem fez, faz ou fará cirurgias plásticas ou procedimentos estéticos. Todas nós recorremos a essa bênção da medicina, até mesmo com fins reparadores. É bom e saudável cuidar do corpo para sentir-se bem e feliz.  Mas dentro de critérios e parcimônia. Desde que não se transforme em vício, obsessão.

Na realidade, a grande distorção de imagem do final do século passado e do atual é que o sonho de consumo passou a ser a reforma externa. Desaprendemos o ritual de cultivar a beleza interna. Antes da plástica, deveria ser necessário que se fizesse uma reforma íntima – de valores, princípios, espiritualidade, compaixão, fé, amor. Uma verdadeira revolução dentro de nós mesmos, buscando nossa beleza interior no sentido mais abrangente.

Com a idade, avançamos, crescemos, progredimos. Beleza exterior é uma roupa que velha, de repente, já não nos serve mais. O exterior, como continente, serve de invólucro ao conteúdo. É casca. Perece.

Não trocaria meus 50 e alguns de hoje pelos 20 e poucos de ontem. Tinha carinha de princesa. A cabecinha era até aproveitável, mas o conhecimento e a experiência que possuo hoje dão de 10 a zero na menina. Se pudesse, voltava com 50!

Idade nunca foi sinal de feiúra. É sinal de amadurecimento, serenidade, bom-senso, sabedoria adquirida.

Concluo que só é feio quem não se ama.

Carmen Macedo

Reflexo



Hoje olhei-me em um espelho.

Vi um carvalho, neste dias em que o termômetro marco o zero negativo.

Sua copa estava alva, pelos flocos de neve que se acomodaram lentamente.

Sim, estas são as marcas de uma vida com muito pouca rotina.

Os cabelos já não estão castanhos como a algum tempo.

No princípio era majestoso, com muitos galhos, folhas e frutos.

Agora, são poucos os galhos, quase não existem mais folhas e quanto aos frutos, o último caiu e com ele levou a esperança de renascimento de outro.

Olhei-me em um espelho.

O futuro já não existe, pois o que sobrou no presente é o reflexo de um duto e simples, triste e feliz, amargurado e terno passado.

Olhei-me em um espelho.

Agora, porém, olho-me diretamente e analiso seus traços.

Já não são mais reflexos, pois agora assisto o que ocorre no passado, o que se passa no presente e o que permanece no futuro.

Soltei meu desabafo: Ufa!

Exalto a glória do acontecimento:

Finalmente estou vivo....

Silvio Belbute

Saudades



passamos quase uma vida juntos, mas parecia que mal nos conhecíamos
deixei de te falar e ouvir muitas coisas....
queria ter proporcionado mais alegrias... mas sei que te magoei..
por rebeldia, fui além do esperado, e você esperando...
mas não foi por mal.
foi por imaturidade.
agora ao olhar e lembrar de teus traços recordo que deveria ter feito todo o melhor
imaginei que teria muito mais tempo....
para gritar, escrever e mostrar todo meu amor...
e a saudade que sinto  de ti é imensa...
quisera ter feito muito mais....
mas acho que fiz tudo que estava ao meu alcance...
pena que em seu último dia cheguei tarde para lhe dar o último beijo.
mas pode ter certeza quando vejo meus filhos vejo sua semelhança...
meu querido pai..

Cintia J Souto

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lembranças de uma janela que não me pertence mais.

Ao Doutor Dilto Nunes:

Lendo o que o senhor escreveu neste espaço, com o título “Uma gaiola aberta para o mundo” (ZH Moinhos de 22/1), a respeito de sua nova morada na Rua Marquês do Pombal, me senti lisonjeada. Até emocionada, arriscaria dizer.

Morei nesse apartamento, ao qual o senhor dá essa denominação tão carinhosa, por mais de 20 anos. Ali criei meus filhos, levando-os ao colégio todas manhãs, ao inglês, à escolhinha de futebol, à natação, sem nunca precisar sair dos limites do bairro.

O Zaffari me acompanhou todos dias dessa trajetória. A dona Edith Travi, com seus maravilhosos iogurtes. A Primavera, com seus sanduíches incomparáveis, e o Santo Antônio, com seus suculentos filés. Sem falar na pracinha Maurício Cardoso e no Parcão, onde eu levava meus filhos e os cachorros para brincar.

Nele, fui casada e descasei. Lutei contra preconceitos em uma época em que mulher sozinha não era respeitada. Muitas portas se fecharam, mas devo reconhecer que isso serviu para meu crescimento pessoal. Pessoas se afastaram de mim, outras tantas se aproximaram. Fiz grandes amizades, que permanecem até hoje.

Os passarinhos que o encantam, hoje, devem ser os netos dos que pousavam em minha janela, com quem eu conversava sobre minhas tristezas ou compartilhava minhas alegrias vividas ali.

Hoje, o apartamento é seu por direito, mas me permita deixar um pedaço vivo de mim dentro dele. Ali deixei como herança uma história de vida, às vezes, linda, outras, devastadora.

As árvores frondosas, orgulho de todo o bairro, muitas vezes embalaram, ao som do vento, minhas esperanças, e, a cada gorgeio de um novo pássaro que começava a dar seus primeiros trinados, eu nascia novamente, acreditando que tudo na vida é transitório, como na natureza.

Essa janela dá para o mundo, sim, Dr. Dilto! E os pássaros que pousam e cantam para o senhor hoje já não são mais os “meus pássaros”. Pois, assim como eles crescem e deixam o ninho para se aventurarem por outras paragens, os meus filhos também voaram atrás de suas escolhas em outros lugares.

E como meu ninho aí estava vazio, resolvi tomar outros ares, e digo isso sem tristeza, pois aprendi, com os pássaros, que chega um momento em que, se os filhos não abandonam o ninho, a gente mesmo os força, com um leve empurrãozinho a voarem sozinhos.

Um abraço e felicidades na nova morada.

Martha Mansur