sexta-feira, 24 de setembro de 2010
ARCABOUÇO
Em cima daquela torre
O músico e a bailarina
De noite tomavam porre
De dia faziam rima
Desciam pelas escadas
Cantavam pelas esquinas
Voltavam embriagados
Num rastro de purpurina
Até que a ventania
Desnudou a bailarina
Destruindo a melodia
Arrancou-lhe a fantasia
Poeta bebeu saudade
Vagou pela noite fria
Trôpego pela cidade
Procurando a bailarina
Não encontrando pousada
Procurando companhia
Voltou à torre encantada
Mas só fantasmas havia
E o poeta, em sua sina,
Subiu à torre e maldisse
Seu amor pela meiguice
Da lânguida bailarina
Assim, de dor consumido,
Foi descendo aquela escada
Caminho tão percorrido
Junto de sua amada
Até encontrar o porão
Onde ficou para sempre
Prisioneiro de si mesmo
De seus sonhos, da canção
Prisioneiro do amor
E da imensa solidão.
*Para Ludmila Rodrigues e Wander Bêh
Carmen Maceco
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