Campo aberto,
descampado
a passos lentos, piso o chão
perdido nos meus pensamentos,ergo os olhos, já quase enterrado nesse chão,
lá estava ela...
num relance de vento, me caí um cisco no olho que me faz lacrimejar
porque destas vistas não sai debuxo em tempo de guerra
velha tapera, tijolo de barro, que um dia foi terra e para ela está a voltar
já foi abrigo,palco de amores e desamores
escudo de guerra, ninho de sonhos,
todos ali já foram para outros pagos
e aqui estão apenas os que ainda pagam
velhas figueiras em conjunto de três, lembram o sinal da cruz
pai, filho e espirito santo
suas raízes cruzam o antigo chão da imensa tapera
seus galhos tortos , lembram a estrada da vida
velho jippe da cor do mato, onde um dia atravessou fronteiras passaros fazem ninho.
e o cisco não me sai das vistas e junto com ele as lembranças
volto pro aqui e vejo um mundo doente, apestiado
então surge um vento, e a pala me bate o lombo e me acorda pro ontem
o ontem de velhos indios charruas, onde o vento trás segredos
onde a linhagem não se trazia no peso do ouro
mas na palavra proferida,
coração estava no sangue e não nas vestes que hoje compram como mascaras num tal cartão de crédito,prá desfiles encomendados
velha tapera, que a noite de lua cheia é recinto de reunião de velhas almas já partidas deste rincão
e com a permissão de nosso pai, aqui voltam com suas palas em mantos,tentar proteger este chão
minha terra, onde o cruzeiro rasga o céu sem pedir licença
velho pagé acocorado num canto
meio em desencanto , assim como a tapera
assistiu guerras em lança na mão
onde a lança apontava caminhos e não feridas
arco manejado com punho firme....
a beber sua beberagem
num galope de um potro, que estas vistas já não miram, num repente...desaparece
tão dono dessa terra, onde todos acolheram
tratados foram com estupidez, da dita civilização
ainda voltam a ensinar.
Perdido, estaqueado no meio do pampa ali fiquei por horas a fio
velhas figueiras onde bandeiras de charque ali retiveram ,a matar a fome de passantes e de velhos guerreiros
hoje sem charque, com passantes famintos e sem guerreiros
pedaço de chão , deste imenso país
onde atolastes tuas raízes?
olvidei o cisco, tentei deixar o debuxo livre...
mas não consegui.
Sinal que me encontro em intervalo de batalha,
levantei do chaõ com um punhado na mão desta terra , sem que por mim desse conta
coloquei no bolso cheio do nada
e jurei a tapera...me aguarda que volto!
por Rosana Corrêa
Gente aonde e essa taperinha, me fala que eu quero ir nela!
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