terça-feira, 28 de setembro de 2010

Aperto - Por Themis Groisman Lopes

Ele vem se aproximando com um sutil sorriso nos lábios, que me fazem estremecer. Há exatos dez anos, ele era imponente, altivo e com uma vasta cabeleira castanha que parecia eterna, tamanha a densidade e a força dos fios.

Começo a suar no meio dos seios, minha boca fica seca. Só consigo enxergar em câmara lenta, os passos agora pesados; o corpo opulento e flácido; a cabeça careca; os olhos injetados e fixos em mim.

Enquanto o som dos aplausos retumba ao meu redor, a iminência do encontro com meu professor de cálculos é certa e assustadora. O desconforto embrulha meu estômago. Só me dou conta da razão de minha situação de pânico, quando sua mão já quase toca a minha: esqueci seu nome, só lembro seu apelido e, é ele que temo com todas as minhas forças. É o professor que me remete às lembranças das jovens alunas procurando esconderijo, no bar do campus, para se esquivar do contato com esse homem, que hoje recebe um merecido prêmio, recompensa de anos de dedicação e esforço.

É engraçado, como o jeito desagradável, porém longe de ser insuportável, de determinadas pessoas de nossa juventude, ficam gravadas em nossas lembranças, fazendo toda emoção de outrora, voltar com força e grandiosidade. Aquele homem jamais sonhou com a reação que provocava em suas atentas alunas, pois além de bom professor, era gentil e atencioso.

Agora, cá estou eu, esperando o respeitoso aperto de mão de alguém que é digno de minha admiração e reconhecimento. Alguém que merece ser chamado pelo nome, que seus pais escolheram para acompanhá-lo e honrá-lo.

Os olhos injetados se rasgam, acompanhando o imenso sorriso. A mão aperta forte a minha, e sinto dois beijos estalados, cada qual em uma bochecha. Retribuo o sorriso e o aperto de mão. Um “parabéns” esganiçado sai, seguido de um sacolejar repetido de minha cabeça, dando ênfase a todo contexto gestual, na tentativa de disfarçar a minha desconcertante falta de lembrança. Ele não percebe. Agradece emocionado, quando lhe chamam a atenção do outro lado. Pede licença e se retira.

Saio devagar, me encaminhando às plaquinhas que indicam o banheiro.

Entro, olhando resignada no espelho. Puxo duas toalhas de papel, depois mais duas.

Enquanto limpo meu rosto, lembro seu nome: Cesar Augusto, o famoso “Baba Bochecha”.

Por Themis Groisman Lopes

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